Qual é o projeto que estamos formulando para a Cidade?

Considero, o período em que vivemos, o mais importante na vida política, quando assistimos a transição da Cidade à democracia – um processo, a meu ver muito bem sucedido. A ditadura socialista forçosamente transforma tudo em política, se apropriando de dimensões como produção, comércio, amor, esporte e até mesmo a arte para ações a seu favor, reduzindo a política formal do diálogo em um jogo de marionetes.

Em Curitiba, estamos em um momento da política voltada à humanidade, após o complexo processo pandêmico e o maior “lockdown” – confinamento do país, um orçamento projetado para 2024 de mais de 15 bilhões de reais.

Em meio a pandemia e o confinamento forçado à sociedade, a situação em que nos encontramos era de extrema importância da solidariedade e do senso coletivo, começando pelos cuidados individuais. Ao mesmo tempo, utilizamos as tecnologias a favor da humanidade. Ou seja, o altruísmo eficaz, uma ideia de unir o melhor do desenvolvimento, e respeitar as qualidades e valores de diferentes culturas.

Se faz necessário que se diminua o consumismo que assola tanto a classe média como a elite e, em contrapartida, que cresçam as possibilidades de consumo das populações miseráveis e pobres.

É preciso combinar crescimento e decrescimento, ou seja, o que deve crescer com o que deve decrescer — e o que deve crescer é uma economia cada vez mais limpa, isto é, uma economia que transforma as cidades, que as deixa mais saudáveis e humanizadas.

Portanto, é preciso combinar globalização e desglobalização, desenvolvimento e envolvimento, crescimento e decrescimento — e isso, a meu ver, substituindo a palavra desenvolvimento por uma política mais humanizante.

Como por exemplo, crer que culturas fundadas sobre a tradição oral, isto é, desprovidas da escrita, sejam reduzidas à carência, ao analfabetismo. Não, elas não conhecem o alfabeto, mas elas possuem tesouros culturais incríveis como a visita da Princesa Izabel ao Vale do Ribeira, me refiro também em relação às pequenas sociedades do vale ao norte da capital.

Assim, uma política da humanidade é uma política que sabe fazer a troca da sintonia entre as qualidades que deram origem, a globalização, e as qualidades próprias às culturas tradicionais. Essas culturas possuem uma conexão, um vínculo com a natureza que nós sociedade inteligente buscamos reencontrar; elas possuem uma noção de solidariedade que nós já perdemos.

Porém, elas possuem também dogmatismos, autoritarismos, políticas de isolamento. A questão é, portanto, fazer essa uma integralidade. Um conjunto, uma política da humanidade seria uma política capaz de efetuar, em cada cidade, um reencontro entre o melhor de sua própria cultura e das culturas limítrofes.

O que, de certo modo, já se comprova, pois os cidadãos da cidade inteligente há uma tamanha insatisfação moral, psíquica, que se nota um apelo não apenas aos divãs dos psicanalistas e psicoterapeutas, mas também à yoga, ao budismo zen, às formas asiáticas de espiritualidade, para se reencontrar uma harmonia consigo mesmo, com seu próprio corpo, com seu próprio espírito.

A ideia de uma política da humanidade é a de uma política que une o melhor do desenvolvimento, mas, repito, o que faz esse desenvolvimento produtivo integração tão almejado para que se torne sustentável só se dá através da integração que respeita as qualidades e os valores de diferentes culturas.

As grandes ideias propostas por Edgar Morin no palco do Fronteiras podem ser lidas na obra 21 Ideias da Fronteiras do Pensamento para compreender o mundo atual

Alexandre Schlegel

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